sexta-feira, 11 de abril de 2014

De que toca saiu esse coelho? (II)

De que toca saiu esse coelho? (II)

PÁSCOA DE OSTERA

ENTRE AS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS

Na primeira parte da postagem vimos que na Páscoa bíblica não existe nenhum coelho e nem tampouco ovos. Todavia, a comemoração de Páscoa inclui um coelho que distribui ovos, especialmente às crianças. E nossa questão maior, portanto, é descobrir de onde surge essa tradição.

Em primeiro lugar é mister afirmar que existem indícios, do  período pré-mosaico, que comprovam a existência de um ritual muito próximo aquele  que foi realizado quando da saída do povo hebreu do Egito, pelos povos semitas nômades, ou semi-nômades. Esse rito era absolutamente familiar, e quando muito envolvia o clã, mas não estava ligado a ordens sacerdotais, a santuários, ou qualquer outra influencia dos cultos oficiais; bem como também não havia necessidade de altares. Ainda que o ato central do ritual estivesse ligado ao sacrifício de um animal (ovelha ou cabra) jovem do próprio rebanho. Neste ritual pré mosaico o sangue do animal era retirado e com ele era ungida a entrada das cabanas; o animal era assado e servido com ervas amargas (nascida no próprio deserto) e pães asmos (sem fermento). Por tanto, podemos notar que existe ampla semelhança com o ritual instituído por Moises.

Por outro lado, devemos lembrar que no hemisfério norte, o equinócio de Março marca o início da Primavera e o tempo das grandes colheitas. os povos grego e romano enxergavam  que a passagem do inverno para a primavera era, também, a passagem do período das trevas para a luz. Isso porque após o longo período de inverno, onde as noites são mais compridas, chegavam ao fim, com os dias e as noites passando a ter iguais duração de tempo. Esse fato era festejado com grande alegria, e diversos historiadores conseguiram encontrar material suficiente para comprovar a existência de festas agro-pastoris em comemoração a essa passagem do inverno para a primavera. Normalmente essas festividades eram realizadas durante o mês de março, mais precisamente durante o período da primeira lua cheia daquele mês.

Gostaria de lembrar, ainda, que a palavra “Páscoa” é uma variação do hebreu "peschad"; que em grego passa para "paskha" e em latim "paché" – que quer dizer "passagem". E como já afirmamos anteriormente, para o antigo israelita o "peschad" era um memorial instituído para mostrar que o Senhor havia resgatado seu povo da servidão do Egito. Para consumar a saída do povo hebreu, Deus enviou dez pragas sobre Faraó e sua gente, entretanto, antes da décima praga, Jeová deu ordens específicas ao seu povo mandando que cada família tomasse para si um "cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras." (Êx.12.5); e disse que o animal seria sacrificado no décimo quarto dia, sendo que sua carne seria assada e comida com pães azimos e ervas amargas, enquanto que o sangue deveria ser passado nos batentes laterais e superior da casa onde a refeição fosse feita. Porque naquela noite o Anjo passaria pelo Egito, e o sangue nos batentes, serviriam de sinal para que ele pulasse aquela casa, mas a casa que não estivesse marcada pelo sangue do cordeiro, esta seria visitada pelo Anjo que feriria de morte ao primogênito.

"E aconteceu, à meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais. E Faraó levantou-se de noite, ele e todos os seus servos, e todos os egípcios; e havia grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto. Então chamou a Moisés e a Arão de noite, e disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; e ide, servi ao Senhor, como tendes dito." (Êx. 12.29-31).

E para que as gerações futuras soubessem de todas essas maravilhas, o Senhor, disse a Moisés: "E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo." (Êx.12.14). E ainda completou: "Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos e juízos que o Senhor nosso Deus vos ordenou? Então dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito; porém o Senhor, com mão forte, nos tirou do Egito; E o Senhor, aos nossos olhos, fez sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito, contra Faraó e toda sua casa; E dali nos tirou, para nos levar, e nos dar a terra que jurara a nossos pais." (Dt. 6.20-23).

Portanto, podemos, assim, perceber a enorme similaridade entre o ritual pré mosaico e este descrito pela Bíblia. O que não ocorre com os rituais do "peschad" e do equinócio europeu, pois, entre eles, a única similaridade está no fato de ambos serem realizados no período de passagem entre o inverno e a primavera. Enquanto os hebreus festejavam a data para recordar a libertação que Deus lhes proporcionara, após séculos de servidão no Egito; os europeus, nestes festivais, realizavam cultos em homenageavam a deusa Ostera (ou Ostara), que considerada a divindade pagã da Primavera.
Esta deusa, de berço anglo-saxão e incorporada tanto aos panteões grego e romano (deusas Persephone e Ceres, respectivamente), era a representação da fecundidade e, em sua mão, segurava um ovo, enquanto observa um coelho (que é símbolo de fertilidade) que pulava alegremente em redor de seus pés nus. A deusa, e o ovo que ela carrega, são símbolos da uma nova vida que chegava junto com a Primavera.

Na celebração a Ostera, comemorava-se a fertilidade, através da prostituição cultual, com um tradicional e antigo festival pagão que celebra o evento sazonal equivalente ao Equinócio da Primavera. Algumas das tradições e rituais que envolve a deusa pagã, incluem fogos de artifícios, ovos, flores e o coelho. Conta à lenda, que Ostera estava sentada em um jardim quando um amável pássaro pousou em sua mão e ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou em uma lebre. Esta magia encantou às crianças que presenciaram, mas, com o passar dos meses, o pássaro, transformado em lebre, não estava feliz com a transformação pois não podia cantar e nem voar. Mas a magia não poderia ser revertida; entretanto, na primavera seguinte, Ostera decidiu devolver parte da alegria da pequena Lebre, ainda que fosse apenas durante a estação das flores, devolvendo-lhe a forma de pássaro,. Em sua enorme felicidade, o pequeno animal, botou ovos em homenagem a deusa. E as crianças, como forma de celebrar a liberdade da ave, decidiram pintar  os ovos do pássaro e distribuí-los para os parentes e amigos, como forma de alertar as pessoas que não devemos interferir nas coisas da natureza.

Conta-se, também, que os ovos utilizados nos rituais do equinócio da primavera, eram pintados com símbolos mágicos e outros eram confeccionados em ouro, esses ovos eram depois enterrados ou lançados ao fogo como oferta aos deuses.

Claro que poderíamos nos aprofundar ainda mais, com respeito a outras festividades relativas à Primavera e verificaríamos que são inúmeras.  Encontraríamos que nos países nórdicos, também havia a prática de comemorar a passagem de estações e que ali a consagração era à deusa Gefjon (a doadora) deusa da agricultura, da fertilidade tendo, porém, uma origem muito controvertida. Os sites que falam sobre esse tipo de assunto são muitos. Mas, nosso interesse primeiro não tem esse objetivo. (continua...) 

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