O PENSAMENTO
O pensamento é algo muito interessante. É mesmo algo inexplicável. Ele voa, sem que você saiba como, ou por que. E quando você percebe já está “viajando” seja para o passado, ou para os desejos de um futuro, que talvez nunca se realizem.
Através do pensamento, também, rompemos a barreira do tempo e, geralmente, nos aproximamos daqueles que não mais estão entre nós; isso se dá porque, através do pensamento, encontramos as lembranças que estão guardadas dentro de nós e que, muitas vezes, queremos ocultar até mesmo de nós.
Pelo pensamento entramos na “máquina do tempo” e encontramos as reminiscências de nosso próprio ser. Encontramo-nos com quem queríamos ser, com quem imaginávamos que seriamos e, principalmente, com quem de fato somos. No pensamento não há espaço para a falsidade, somos o que somos e pronto.
Quase sempre dói muito ver a realidade, mas no pensamento não conseguimos esconder quem de fato somos.
Em nossas mentes nos idealizamos como seres perfeitos, mas quando olhamos para dentro de nós mesmos só encontramos aquilo que não queríamos: um ser cheio de falhas e defeitos. E o pior, muitas vezes fracassado.
Ainda que a sociedade nos aponte como vitoriosos, quando olhamos para nós vemos onde fracassamos, e assim acabamos enxergando aquilo que os outros não vêm.
Mas, é lógico que a culpa não é nossa!
Ao contrário, foi culpa de alguém que deixou de fazer alguma coisa por nós. Temos extremas dificuldades em admitir nossos erros, e por isso, quando chegam as conseqüências queremos atribuir a culpa aos outros.
Contudo, quando estamos sozinhos, trancados em nossos pensamentos, ai então conseguimos “enxergar” a verdade de que uma parcela da culpa é nossa mesmo. E aí ...
“– Ah, se houvesse feito daquele outro jeito, com toda certeza, poderia estar em situação diferente.” “– Ah, se houvesse pego aquele outro caminho, hoje não estaria assim.”
Porém, publicamente, não podemos nos dar ao luxo de parecer fracos confessando os nossos erros. Oras, onde vai ficar o orgulho que há dentro de nós; que além de não admitir erros, ainda nos faças dizer: “– Se pudesse faria todo outra vez! Exatamente da mesma forma.”.
É! Decididamente! Admitir erros é sinal de fraqueza, e não podemos ser fracos diante de um mundo em que só os mais fortes sobrevivem. Temos obrigação de ser fortes (ou pelo menos aparentar ser forte!!!). Só assim poderemos sobreviver em um mundo que não admite erros pessoais.
E é por isso que o erro não é meu! Com certeza o erro tem que ser do outro!
O erro é do pai ou da mãe que não souberam ser “amigos” (ainda que pais não sejam amigo, sejam pais).
Com certeza a culpa foi deles porque deixaram de fazer algo essencial para a educação do filho.
Ou melhor: quem sabe o erro não foi daquele professor que não estava interessado em ensinar (não importando se o aluno estava ou não interessado em aprender)? Agora não importa de quem tenha sido a culpa, afinal, a culpa tem que ser de outra pessoa que não seja “eu”.
No entanto, o nosso Pai celestial nos diz que nós somos os únicos culpados pelos nossos erros. Que é nosso orgulho nos conduz a ruína e a perdição.
Ele nos diz que não queremos ir ao seu encontro, apesar de seu grande amor que Ele tem por nós. E que na verdade, somos nós que não queremos nos afastar de nossos erros e enganos; o que, de uma certa forma, acaba nos levando a um afastamento ainda maior d’Ele.
Ele nos diz que caímos porque erramos (ver Os.14.1), mas que mesmo em meio aos nossos erros Ele continua a nos amar. Não importa o que tenhamos feito, ou quem de fato somos, Ele nos ama de qualquer jeito. Provavelmente Ele nos ame mais que nós mesmos nos amamos. Ele nos ama tanto que até mesmo enviou Seu único Filho para morre em uma cruz, como se fora um sacrifício de sangue para nos justificar, perante Deus, pelos nossos erros.
Não se engane. Você não pode fazer nada por si mesmo. Só Ele pode. A salvação vem de Deus, exclusivamente d’Ele e de nenhum outro. E mais que isso: “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” (Atos 4.12).
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
A REFORMA PROTESTANTE E A ARTE
O inicio da reforma religiosa promovida pelo frade alemão Martinho Lutero, em 1517, através das 95 teses pregadas à porta da igreja de Wittnberg, conduziu todo o movimento reformista a uma singular tendência à purificação da religião cristã; ou seja: a reforma promoveu o retorno aos ensinos bíblicos e aqueles que eram próprios da igreja primitiva. Esse retorno foi realizado em detrimento das tradições que vinham se instalando no seio da igreja e que nada tinham a ver com a Bíblia. Isso gerou o desagrado às elites que dominavam a igreja, já que estas tiravam partido em beneficio próprio.
Foi exatamente por conta dessa tendência purificadora e de puritanismo, que a reforma protestante trouxe, incluindo nesse contexto todo e qualquer destaque que de certa forma se mostrasse exagerado nos símbolos visuais, que os reformadores passaram, de forma injusta, a ser acusados de antagônicos às artes. Contudo, de forma geral, a Reforma nunca foi contrária às artes, enquanto verdadeiramente expressão arte.
Devemos considerar que muitas das pinturas, afrescos ou esculturas de Madonas, santos e outros símbolos considerados sacros podem e devem ser absolutamente reconhecidos como verdadeiras obras de artes, e até mesmo como brilhante expressão intelectual do artista.
Entretanto devemos analisar o momento histórico em que a Reforma surgiu.
Sem dúvidas aquele era um momento em que existia uma real necessidade de limitar o culto existente, que de certa forma era um culto marcado pela adoração às imagens, a idolatria aos santos, a existência das indulgências e, ao mesmo tempo, contrário a tudo aquilo que os reformadores pregavam.
Por outro lado os reformadores passavam a apontar para a “nova” descoberta: que existia um só mediador entre Deus e os homens Jesus Cristo, o Justo. E que todos eram sacerdotes perante Deus, sem a necessidade de quem quer que fosse para achegar-se ao Criador. De certa forma isso subvertia a ordem até então existente e exigia urgência nas decisões a serem tomadas.
E foi dentro a urgência daquele momento que levou os reformadores a cometerem excessos. Em meio aos excessos foram destruídas diversas imagens, porém todas foram destruídas enquanto imagens religiosas, nunca como obras de arte.
Os reformadores não conseguiam distinguir entre imagens de culto e obras de arte e, sem dúvida, muitas imagens, que na realidade eram obras de arte, foram destruídas. Mas ainda assim, muitas imagens acabaram preservadas e podem ser admiradas em diversas igrejas, catedrais e museus de toda Europa.
A maior prova de que a Reforma não foi contrária às artes é que podemos perceber os efeitos da Reforma na própria arte e na cultura do norte da Europa. Podemos observar, nos países basicamente reformistas, obras singulares de artistas realmente importantes para a cultura européia e mundial.
Devemos saber que o pintor e gravador alemão Lucas Cranach (1472/ 1553) foi amigo de Lutero, tendo retratado a Lutero e sua esposa. E não há nenhum indício que Lutero, em qualquer momento que seja, tenha desaprovado qualquer pintura de Cranach.
Lembremos, ainda, da música produzida durante o período da Reforma e depois dela também: Temos o exemplo do “Saltério de Genebra”, um hinário composto por volta de 1562, por meio dos Salmos, seu som é de tal forma alegre que muitos chamavam de “As Danças de Genebra”.
Ao falarmos de música não podemos deixar de mencionar um dos maiores compositores que já existiu, porém nos atrevemos a dizer não seria o mesmo caso Martinho Lutero não houvesse existido. Referimo-nos a Johann Sebastian Bach, que costumava escrever em suas partituras iniciais frases do tipo: “Com a Ajuda do Senhor”, “A Deus somente seja dada à glória”, “Em nome de Jesus”. É importante saber que a última obra composta por Bach foi “Diante do Trono de Deus agora eu compareço”. Bach, em seus escritos, deixa claro que associava integral e conscientemente a estrutura e as palavras de sua música com as verdades bíblicas. É fantástico saber que um homem como Bach, absolutamente voltado às artes, estivesse tão próximo da Reforma.
Lembremos ainda de Albrecht Dürer, que foi considerado o artista de Reforma; ao mesmo tempo não devemos nos esquecer que Dürer foi contemporâneo de Rafael, Michelangelo e Da Vinci. Portanto, como bem diz Francis Schaeffer: “Não estou absolutamente querendo dizer que a arte produzida pela Reforma, enquanto arte, sempre tivesse sido superior à arte do sul. O fato é que é um absurdo ou desonesto afirmar que a Reforma tenha desprezado a arte e a cultura ou que ela não tenha produzido arte e cultura.”.
Para finalizar, quero citar que talvez um dos maiores exemplos dos efeitos produzidos pela Reforma sobre a pintura, que está em Rembrandt (1609/ 1669).
Rembrandt, apesar de seus defeitos (tal quais meus ou os seus), era um cristão autentico, crendo que Jesus havia morrido por ele e que por isso estava justificado em seus pecados. Por volta 1633, Rembrandt pintou “O Levantador da Cruz”, onde ele mostra um homem com um capuz azul de pintor erguendo a cruz em que Cristo estava pregado; o homem em questão era ninguém menos que o próprio Rembrandt (em um auto retrato). Interessante saber que essa era sua forma de confessar ao mundo que seus pecados haviam levado Jesus à cruz. Esse quadro, hoje em dia, está exposto no museu Alte Pinakothek, em Munique, na Alemanha.
Tanto na Renascença, ao sul, como na Reforma, ao norte, existia a liberdade de criação. Mas o fato é que a arte do sul descambou para a licenciosidade devido ao humanismo pregado pela Renascença, ao mesmo tempo em que não levava o homem a buscar o real sentido do particular da vida do homem, com tal atitude não era dado o necessário espaço para a concepção de absolutos morais.
O norte ao contrário, submetendo-se aos ensinos das Sagradas Escrituras, ao mesmo tempo em que aplicava a liberdade de criação pautava por valores absolutos e, ao mesmo tempo, restritivos.
Termino, portanto, questionando:
Onde ou quando a Reforma Protestante foi danosa às artes?
Ou devemos supor a licenciosidade e a caracterização dos símbolos fálicos (sem que exista um real sentido para tal) como reais obras de artes?
Por fim, se é verdade que houveram exageros quanto ao quebra-quebra promovido por alguns, também é verdade que em muitos momentos da história, os homens se pautaram pelos exageros e por atos impensados. Os protestantes não foram, em absoluto, diferentes ao restante da humanidade nesse aspecto; porém, ainda assim tiveram grande apreço pela cultura e pelas artes.
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